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Um ano após prédio desabar em SP, filha não recebeu documento de óbito de desaparecida: 'Queria ter enterrado minha mãe'
29/04/2019 10:24 em Todas

O corpo de Eva Silveira, 42, não foi encontrado nos escombros do desabamento no Largo do Paissandu; SSP diz que processo para obter declaração de morte presumida foi iniciado.

 

Por Bárbara Muniz Vieira, G1 SP — São Paulo

 

Edivânia e Evaneide, filhas de Eva, e Manoel, irmão, moravam no prédio que desabou com Eva (no detalhe) — Foto: Giba Bergamin Jr./TV Globo

 

O corpo da ajudante de serviços gerais Eva Barbosa da Silveira, 42 anos, ex-moradora do prédio Wilton Paes de Almeida, que desabou em maio de 2018 no Centro de São Paulo, ainda é considerado desaparecido. A família tenta receber o atestado de óbito dela para confirmar oficialmente que ela morreu, de acordo com a costureira Edivânia Silveira Vieira, 23 anos, filha de Eva.

 

Nesta quarta-feira (1º), o incêndio e desabamento do prédio no Largo do Paissandu, completa um ano. Os corpos de sete moradores foram encontrados nos escombros. Além de Eva, o corpo de Gentil de Souza Rocha, 53 anos, ainda é tido como desaparecido.

 

“Eu queria ter enterrado a minha mãe. É uma coisa que fica para toda a vida né. Eu poderia ter feito uma homenagem, ter feito um enterro digno, mas nem o exame de DNA conseguimos fazer”, desabafa Edivânia. Ela diz também ser ex-moradora do prédio.

 

 

Em nota, no entanto, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que foi iniciado o processo para declaração de "morte presumida" de Eva. Ou seja, mesmo sem ter encontrado o corpo da mulher, seria possível confirmar, diante das circunstâncias, que ela morreu. Para isso, seria feito um atestado de óbito. Esse trâmite tem de ser feito pela Justiça, segundo a pasta da Segurança.

 

 

“Prometeram esse atestado de óbito, tem um processo lá esquecido e me falaram que tenho que aguardar. Não me deram resposta nenhuma, nem para me dizer que iam dar o atestado", fala Edivânia.

— Edivânia, filha de Eva, desaparecida no desabamento do prédio

 

A principal hipótese é a de que um curto-circuito no quinto andar causou o fogo que colapsou a estrutura de 24 andares. De acordo com o relatório final da investigação, três coordenadores da ocupação irregular foram responsabilizados criminalmente pela polícia por suspeita de não tomarem medidas de segurança para evitar o risco de incêndio, que era previsível.

 

Eva tinha 42 anos e morava há quatro anos no Wilton Paes de Almeida quando o prédio desabou — Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação

 

‘Não consigo falar que ela morreu’

Eva trabalhava como ajudante de serviços gerais no SESC Vila Mariana, de acordo com Edivânia. “Ela era uma excelente mãe, eu conversava muito com ela, me abria para ela. Ela me contava tudo da vida dela também. Era muito carinhosa com meus filhos”.

 

 

Lucas, 5 anos, e Lohanny, 3 anos, netos de Eva, sentem muito a falta da avó, segundo Edivânia.

 

— Edivânia, filha de Eva, desaparecida no desabamento do prédio

 

‘Dinheiro não traz minha mãe de volta’

 

Edivânia conta que deveria receber a bolsa-aluguel (auxílio de R$ 400 oferecido aos ex-moradores), mas não recebeu.

 

"E esse dinheiro do auxílio não vai trazer minha mãe de volta, mas poderia me ajudar”, diz a costureira.

 

Edivânia diz que morava há quatro anos no Wilton Paes de Almeida com a irmã em um apartamento quando o prédio desabou. A mãe e o tio moravam em outro apartamento no mesmo andar. Pagavam R$ 420 de aluguel. O tio conseguiu o benefício da bolsa-aluguel.

 

 

Ela ainda diz que procurou quatro vezes a Defensoria Pública para tentar ajuda no reconhecimento da morte de sua mãe. O órgão possui defensores públicos que auxiliam juridicamente pessoas que não têm condições financeiras de pagar um advogado.

 

Vídeo mostra início de incêndio em prédio que desabou em São Paulo

 

“Eles alegaram que não tinha confirmação que eu morava lá. No dia que desabou eu estava na Bahia, tinha levado meu filho lá para conhecer o pai, mas a viagem ia durar 5 dias. Perdi todas as minhas coisas que estavam lá, tive de fazer tudo de novo os documentos”, relembra.

 

Em nota, a Prefeitura informou que as 291 famílias que comprovaram vínculo com o Edifício Wilton Paes de Almeida recebem auxílio-aluguel com recursos do Governo do Estado, por meio de convênio firmado com a CDHU para o primeiro ano (R$ 1.200 no 1º mês e R$ 400 nos meses seguintes). A Prefeitura de São Paulo anunciou a continuidade no auxílio a partir de maio deste ano até o atendimento habitacional definitivo. As famílias serão assistidas respeitando os critérios gerais de atendimento habitacional do Município.

 

Edivânia conta que ficou sabendo do desabamento do prédio pela TV. “Escutei no jornal. Eu falava ‘Não acredito que isso aconteceu’ e já comecei a chorar. Eu vim pra cá no mesmo dia”, relembra.

 

 

A costureira fala que tinha conversado bastante com a mãe no dia do acidente. “Ela me ligava toda hora e eu no trabalho, mas atendia. Parecia que ela estava se despedindo”.

 

Relatório final sobre o desabamento do prédio em São Paulo indicia três pessoas

 

 

Arte mostra o prédio incendiado e as outras construções interditadas por falta de segurança no Centro de SP — Foto: Alexandre Mauro, Wagner M. Paula, Igor Estrella e Roberta Jaworski/G1)

 

iNCÊNDIO E DESABAMENTO NO LARGO DO PAISSANDU

 

 

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