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Em dois anos, cresce em 10,2 milhões o número de brasileiros que fazem trabalho sem remuneração, aponta IBGE
27/04/2019 07:34 em Todas

Em 2018, 85,6% das pessoas com 14 anos ou mais realizaram algum tipo de afazer doméstico, 4,3 pontos percentuais a mais que em 2016. No mesmo período, aumentou em 25% o número de pessoas que produzem algo para o próprio consumo no país.

 

Por Daniel Silveira, G1 — Rio de Janeiro

 

Mulheres seguem sendo maioria na dedicação aos afazeres domésticos; 93% das mulheres com 14 anos ou mais fazem algum trabalho doméstico — Foto: Joalline Nascimento/G1

 

 

Enquanto o mercado de trabalho no Brasil segue deteriorado, com queda do emprego formal e aumento expressivo da informalidade, cresce o número de pessoas dedicadas ao trabalho não remunerado no país, sobretudo aquele relacionado às atividades domésticas. É o que revela uma pesquisa divulgada nesta sexta-feira (26) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

Pesquisa da Pnad revela que mulheres cuidam mais das tarefas domésticas do que homens

 

O instituto investiga quatro formas de trabalho que, se fossem remuneradas, poderiam agregar valor ao Produto Interno Bruto (PIB) do país. São elas:

 

  • afazeres domésticos

 

  • cuidados de pessoas

 

  • produção para próprio consumo

 

  • trabalho voluntário

 

Segundo a pesquisa, em 2018 148,8 milhões de brasileiros realizavam pelo menos um tipo de trabalho não remunerado, 10,2 milhões a mais que em 2016, quando esse número era de 138,6 milhões – um aumento de 7,35% no período.

 

Evolução do trabalho não remunerado no Brasil

Número de pessoas (em milhão) dedicadas a outras formas de trabalho

 

O instituto investiga quatro formas de trabalho que, se fossem remuneradas, poderiam agregar valor ao Produto Interno Bruto (PIB) do país. São elas:

 

afazeres domésticos

cuidados de pessoas

produção para próprio consumo

trabalho voluntário

Segundo a pesquisa, em 2018 148,8 milhões de brasileiros realizavam pelo menos um tipo de trabalho não remunerado, 10,2 milhões a mais que em 2016, quando esse número era de 138,6 milhões – um aumento de 7,35% no período.

 

Evolução do trabalho não remunerado no Brasil

 

Número de pessoas (em milhão) dedicadas a outras formas de trabalho

 

Os afazeres domésticos constituem o trabalho não remunerado realizado pelo maior contingente de pessoas no país. Em 2018, 145,1 milhões de brasileiros realizam alguma atividade doméstica, seja no próprio domicílio ou na casa de parentes. Este número também aumentou em 10,2 milhões de pessoas em relação a 2016, quando este grupo somava 134,9 milhões – uma alta de 7,56% nestes dois anos.

 

 

A analista da Coordenadoria de Trabalho e Rendimento do IBGE (Coren) Marina Aguas enfatizou que uma mesma pessoa pode realizar mais de um dos trabalhos não remunerados simultaneamente.

 

Formas de trabalho não remunerado
Total de pessoas (em milhão) dedicadas a outras formas de trabalho em 2018
Percentualmente, no entanto, foi a produção para o próprio consumo que mais aumentou no período. A alta foi de 25% em dois anos. De acordo com a pesquisa, 13 milhões de brasileiros produziam algo para consumo no lar em 2018, 2,6 milhões a mais que em 2016, quando este contingente era de 10,4 milhões.
 
Mais homens nas tarefas domésticas
Das 10,2 milhões de pessoas que desde 2016 também passaram a se dedicar a afazeres domésticos, 6,1 milhões são homens – a maioria deles jovens entre 14 e 29 anos, destacou a analista Marina Aguas.
 
Mulheres fazem, em média, o dobro de tarefas domésticas que os homens

 

O aumento maior entre os homens é natural, segundo a pesquisadora, pois é o grupo com espaço para crescer. Do total de mulheres com 14 anos ou mais, 92,2% faziam algum tipo de trabalho doméstico em 2018, enquanto o percentual de homens nesta condição chegou a 78,2% - em 2016, estes percentuais eram, respectivamente, de 89,8% e 71,9%.

 

A pesquisa, no entanto, indica que há uma tendência de reduzir a discrepância entre homens e mulheres nos cuidados com o lar. A diferença da taxa de realização de afazeres domésticos entre os dois sexos era de 17,9 pontos percentuais em 2016, caiu para 15,3 p.p. em 2017, chegando a 14 p.p em 2018.

 

"O que a gente tem que perceber é quais são as tarefas e o tempo despendido a elas entre homens e mulheres. Elas são mais dedicadas ao funcionamento da casa, eles às atividades mais periféricas. Além disso, as mulheres continuam dedicando o dobro do tempo gasto pelos homens a essas tarefas", ponderou a gerente da pesquisa, Maria Lúcia Vieira.

 

O IBGE considera como afazeres domésticos:

 

  • Preparar ou servir alimentos, arrumar a mesa ou lavar louça

 

  • Fazer pequenos reparos ou manutenção do domicílio, do automóvel ou eletrodomésticos

 

  • Cuidar da organização do domicílio (pagar contas, contratar serviços, orientar empregados, etc.)

 

  • Cuidar da limpeza ou manutenção de roupas e sapatos

 

  • Limpar ou arrumar o domicílio, a garagem, o quintal ou o jardim

 

  • Fazer compras ou pesquisar preços de bens para o domicílio

 

  • Cuidar de animais domésticos

 

 

Dentre as mulheres que realizaram afazeres domésticos no ano passado, 95,5% preparam ou servem alimentos, além de arrumar a mesa ou lavar a louça, e 90,9% cuidam da manutenção de roupas e sapatos. Entre os homens, estes percentuais foram, respectivamente, de 60,8% e 54%.

 

Homens só superaram mulheres nos reparos e manutenção

 

Os homens só superaram as mulheres nas atividades relacionadas a pequenos reparos ou manutenção do domicílio, do carro ou de eletrodomésticos - 59,2% dos homens que fizeram atividades domésticas disseram se dedicar a essas tarefas, contra 30,6% das mulheres.

 

Em relação à média de horas semanais que homens e mulheres dedicam aos afazeres domésticos, elas continuam dedicando quase o dobro do tempo que eles a essas atividades, incluindo os cuidados de pessoas. São 21,3 horas semanais no caso delas, e 10,9 horas no deles.

 

Também há diferença no tempo despendido a essas tarefas entre pessoas que trabalham e as que estão desempregadas. O homem desempregado dedica 1,7 horas semanais a mais que o empregado às atividades do lar. Já entre as mulheres essa diferença salta para 5,1 horas semanais a mais para as que estão fora do mercado de trabalho.

 

 

A pesquisa mostrou ainda que os homens que moram sozinhos têm um perfil muito parecido com o das mulheres na de tarefas domésticas – 92,7% dos homens que vivem sozinhos preparam alimentos ou lavam a louça, por exemplo, enquanto entre as mulheres nessa situação o percentual é de 97,1%. Já entre aqueles que são casados o percentual cai para 57,1%, enquanto o delas salta para 97,9%.

 

Eles vigiam, elas cuidam

 

Entre 2016 e 2018, aumentou em 9,3 milhões o número de pessoas que se dedicam a cuidar de outras pessoas, seja no próprio lar ou em casa de parentes. No ano passado, 54 milhões de brasileiros disseram cuidar de outro. Dois anos antes, este contingente era de 44,7 milhões de pessoas - uma alta de 20,7% no período.

 

 

 

Da mesma forma que nos afazeres domésticos, as mulheres são as que mais dedicam cuidado a outras pessoas. Das 54 milhões de pessoas disseram realizar cuidados de outras, 33 milhões eram mulheres e 21 milhões, homens.

 

Afazeres domésticos — Foto: Infografia G1

 

A participação dos homens, todavia, também tem aumentado mais que a das mulheres. Na comparação com 2016, o aumento entre eles foi de 26,54%, contra 17% de aumento entre elas.

 

De acordo com o levantamento, as mulheres são responsáveis pela maior parte dos cuidados de outras pessoas, que incluem:

 

  • Auxiliar nos cuidados pessoais

 

  • Auxiliar nas atividades educacionais

 

  • Ler, jogar ou brincar

 

  • Transportar ou acompanhar para escola, médico, exames, etc

 

  • Monitorar ou fazer companhia dentro do domicílio

 

A gerente da pesquisa enfatizou que fazer companhia dentro de casa, por exemplo, tem uma diferença mínima entre homens e mulheres, de apenas 3,7 pontos percentuais. Já quanto a auxiliar nos cuidados pessoais – que no caso das crianças, por exemplo, significa dar banho, colocar pra dormir, etc –, essa diferença salta para quase 20 pontos percentuais, sendo as mulheres as principais responsáveis pelo auxílio efetivo.

 

 

Produção para consumo próprio

 

Das quatro formas de trabalho não remunerado investigadas pelo IBGE, a que teve o maior aumento foi a produção para consumo próprio. Em 2018, 13 milhões de brasileiros produziam algo para consumo dentro do lar, 2,6 milhões a mais que em 2016, o que corresponde a um aumento de 25% no período.

 

"É um aumento significativo, sim, principalmente se a gente considerar que a produção para próprio consumo é maior entre a população menos economicamente favorecida", apontou Maria Lúcia.

 

Questionada se esse aumento está relacionado à crise econômica e ao aumento do desemprego registrados nos últimos anos, a pesquisadora ponderou que a pesquisa não permite fazer essa relação direta, mas disse que podem estar associados sim.

 

 

"Cerca de 80% da produção para o próprio consumo é voltado para as atividades agrícolas, que é a cultura de subsistência. Isso pode tanto estar associado à perda de poder aquisitivo, o que precisaria ser confrontado com outras pesquisas, quanto pode simplesmente ter a ver com mais gente interessada em plantar a própria horta, por exemplo", ponderou Maria Lúcia.

 

Produção para o próprio consumo em 2018

 

Percentual de pessoas dedicadas a cada tipo de atividade

 

 

Trabalho voluntário

 

Em 2018, 7,2 milhões de pessoas se dedicavam a algum tipo de trabalho voluntário no país, 118 mil a menos que em 2017, mas 720 mil a mais que em 2016, o que representa um aumento de 11,1% em dois anos.

 

 

Do total de pessoas que se dedicavam ao voluntariado, 48,4% disseram realizá-lo quatro ou mais vezes por mês, enquanto 15,6% o fazia eventualmente ou sem frequência definida.

 

O tempo médio dedicado ao trabalho voluntário era de 6,5 horas semanais no ano passado. O IBGE destacou que quanto maior a escolaridade, maior a dedicação ao voluntariado no Brasil.

 

A pesquisa mostrou também que 79,9% das pessoas que fizeram algum trabalho voluntário em 2018 atuaram em congregação religiosa, sindicato, condomínio, partido político, escola, hospital ou asilo. Outros 13% o fizeram em associação de moradores ou esportiva, ONG, grupo de apoio ou outra organização civil.

 

 

IBGE

 

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