- Fase 1: avaliação preliminar com poucos voluntários adultos monitorados de perto;
- Fase 2: testes em centenas de participantes que indicam informações sobre doses e horários que serão usados na fase 3. Pacientes são escolhidos de forma randomizada (aleatória) e são bem controlados;
- Fase 3: ensaio em larga escala (com milhares de indivíduos) que precisa fornecer uma avaliação definitiva da eficácia/segurança e prever eventos adversos; só então há um registro sanitário
Gustavo Cabral, imunologista — Foto: Arquivo pessoal
Também em fase pré-clínica está uma vacina pesquisada pelo INCTV (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Vacinas), que tem base técnica elaborada pelo Grupo de Imunologia de Doenças Virais da Fundação Oswaldo Cruz-MG.
“Nossa técnica consiste em usar o vírus da influenza como vetor vacinal. Como se trata de um vírus defectivo para a multiplicação, ele não causa a doença, mas gera produção de anticorpos. Com esse processo, uma das possibilidades é desenvolver uma vacina bivalente, que possa ser usada contra influenza e contra o coronavírus”, explica o pesquisador Ricardo Gazzinelli, líder do Grupo de Imunopatologia da Fiocruz Minas e coordenador do INCTV.
Há trocas de informações entre os dois grupos de pesquisadores.
Iniciativa global
Nesta semana, a Casa Civil tinha prevista uma reunião interministerial para tratar da entrada do Brasil no ACT Accelerator, iniciativa global gerida pela OMS que pesquisa uma vacina para o coronavírus e que conta com a adesão de cerca de 40 países, incluindo ao bloco da União Europeia.
Há uma preocupação de o Brasil não ficar "no fim da fila" no acesso à vacina caso não se engaje no esforço internacional.
O Brasil, até o momento, se mantém alinhado ao governo dos Estados Unidos, que não está no ACT Accelerator, mas, dada a forma como o governo americano trata as questões de propriedade intelectual, não há nenhuma garantia de que o brasileiros se beneficiariam caso uma empresa americana desenvolva a vacina.
"Temos que desenvolver nossa própria vacina, estamos atrás da fila, não estamos envolvidos com a União Europeia. O país que desenvolver a vacina vai priorizar seu povo, seus associados e, depois, quem pagar mais", projetou o imunologista Gustavo Cabral.
Por que a demora?
Especialistas dizem que as vacinas demoram, em média, dez anos para ficarem disponíveis ao público após o início dos estudos.
Uma vacina ideal protege contra infecções, impede a propagação e faz tudo isso com segurança. Ou seja, é preciso que os efeitos colaterais sejam todos previstos e administrados pelos agentes licenciadores, evitando que as consequências sejam ainda mais perigosas para os infectados.
"O exército americano desenvolveu uma vacina usando vírus atenuado contra a chikungunya. Quando estava na fase 2, perto do estudo de larga escala e de licenciar para seres humanos, descobriram que 6% ou 8% dos vacinados desenvolvia fase mais crítica da doença. Em termos técnicos, se a gente pula de fase, quando chega bem próximo, precisa retomar tudo de novo", exemplificou Gustavo Cabral.
E o que fazer sem vacina?
Enquanto não há vacina, a busca é por medicações que possam diminuir a taxa de mortalidade e, portanto, recuperar infectados pelo vírus SARS-Cov-2. O ensaio clínico iternacional Solidarity, da OMS, é desenvolvido também no Brasil pela Fiocruz em 18 hospitais e 12 estados, com pesquisa de diferentes medicações.
Medicamentos usados para outros tratamentos podem ser adequados para combater o Covid-19. A adaptação, porém, também exige muita pesquisa e precisa ter erros minimizados.
Medicamento Remdesivir produzido em laboratório nos EUA — Foto: Gilead Sciences via AP
As pesquisas hoje são, por exemplo, com antivirais como o remdesivir, adotado inicialmente para tratar ebola e hepatite C, e testado em Reino Unido, EUA e Japão: "Existem muitos estudos acontecendo com drogas na entrada do vírus, mas todos estudos ainda iniciais. Por enquanto não há nenhuma droga que resolva 100%", ressaltou Álvaro Furtado Costa.
A hidroxicloroquina segue liberada pelo Ministério da Saúde brasileiro para o tratamento de pacientes no estágio inicial da Covid-19, embora tenha tido testes interrompidos pela OMS, já que tem efeitos colaterais graves, como maior chance de parada cardíaca. E não há estudos que atestem sua eficácia contra o novo coronavírus.
Mas e se além de não acharem a vacina ideal nenhum remédio se mostrar eficaz para curar uma pessoa infectada? Quando a maioria das pessoas for contaminada ela pode ser erradicada por não ter mais quem infectar? Ou poderá voltar numa nova onda de pandemia em breve, se o vírus sofrer mutação? "Há perguntas que só são respondidas com o tempo", pondera Gustavo Cabral.
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