Offline
Conquista estratégica ou risco para a floresta? Projetos para a bacia do Rio Tapajós geram debate
22/05/2019 10:04 em Todas

Setor do agronegócio é um dos que mais crescem no país. Região de Santarém pode concentrar novo polo para exportação de grãos para a China.

 

Por Carolina Dantas, G1

 

Projetos de infraestrutura são criados para exportar a soja na Amazônia

 

A instalação de hidrelétricas, um complexo de portos e três ferrovias na região da bacia do Tapajós, no Pará, colocam em lados opostos os argumentos daqueles que apostam em conquistas econômicas para o Brasil e de outros que temem que as estruturas sejam vetores de desmatamento na floresta amazônica.

 

 

 

 

A região é apontada como uma saída para escoar a produção de grãos para a China. Tanto os que chegam das colheitas de outros estados quanto os que são do próprio Pará. O diretor do Sindicato Rural de Santarém (Sirsan), Sérgio Schwade, explica que a expansão da infraestrutura é necessária para a garantir um aumento da produção local.

 

 

Schwade diz que a região deve atingir, no próximo ano, uma produção de soja e milho dentro da média nacional. Por hectare, a previsão é de 80 sacas de soja e de 80 a 100 sacas de milho.

 

Ele defende que o agricultor que infringir as leis ambientais seja multado, mas que é preciso dar condições para que a produção ocorra dentro das regras e para que a exportação ocorra.

 

 

"Os produtos in natura são colhidos hoje e precisam ser consumidos amanhã. Como fazer isso? Manaus não absorve tudo, Macapá não absorve tudo. Aqui nós estamos em um canal de exportação. O produto não é verticalizado para todo o Brasil porque existe uma troca entre países, um intercâmbio. Ele é feito assim: vai o grão e volta outra coisa, volta fertilizante, outros produtos, outros derivados", afirma o diretor do sindicato rural.

 

 

O secretário municipal de Agricultura e Pesca de Santarém, Bruno Costa, também não vê um embate entre a abertura de infraestrutura na região e a preservação. Segundo ele, o "município se posiciona, respeita e acompanha dentro da competência todos os estudos de impacto das instalações".

 

Abertura de infraestrutura na bacia do Tapajós — Foto: Rodrigo Sanches/G1

 

Impacto global

 

Caetano Scannavino, morador da região há 30 anos e coordenador da ONG Saúde e Alegria, diz que não é contra a expansão do agronegócio, mas defende um estudo global sobre o impacto da instalação de um complexo de hidrelétricas, portos e ferrovias.

 

"Uma coisa é a gente pensar em infraestrutura para a Amazônia. Outra coisa é a gente pensar em infraestrutura na Amazônia para o Sudeste", comenta Scannavino.

 

Segundo ele, projetos como o fim do asfaltamento da BR-163 e a criação de ferrovias, como a Ferrogrão, não são exatamente pensados para a região. "Historicamente, colocaram a hidrelétrica de Tucuruí e só depois de 10 anos as comunidades que vivem em volta foram eletrificadas".

 

 

Em fevereiro, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, esteve no Pará e afirmou que o plano é concluir o asfaltamento da BR-163 até o fim do ano e que há estudos para a concessão da rodovia.

Santarém é um dos centros para saída da soja no Pará — Foto: Marcelo Brandt/G1

 

A promotora de Justiça Ione Nakamura, do Ministério Público do Estado do Pará, avalia que a bacia do Tapajós foi transformada em área de interesse para diferentes atividades econômicas. “É uma área de expansão agrícola, minerária, projetos de infraestrutura e de logística", afirma a promotora.

 

 

Para ela, um ponto a ser considerado na avaliação do conjunto de obras é o possível aumento desenfreado da população na região e o impacto que ela pode causar. Ela defende a busca do equilíbrio.

 

Rio Tapajós tem intenso fluxo de barcos no Pará — Foto: Marcelo Brandt/G1

 

O ambientalista Danicley Aguiar, porta-voz do Greenpeace, afirma que a ONG acompanhou a instalação de hidrelétricas, mas também não tem uma análise “macro” do impacto dos projetos de infraestrutura, e que isso não está previsto na legislação brasileira.

 

"Infelizmente, isso não é uma prática no Brasil. Você vai colocando uma estrada aqui, uma hidrelétrica ali, e aí você não traz para o debate da sociedade o que pode acontecer com o conjunto de obras", afirma.

 

Desmatamento na Amazônia: mais da metade da floresta está em Unidade de Conservação

 

 

Mais do G1

COMENTÁRIOS